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12 de nov. de 2009

Carta às pessoas boas





Carta às pessoas boas
(escrita no local e período...Fortaleza, Natal de 2006)

Corinto era uma cidade portuária, com mais de 500 mil habitantes, na maioria escravos. Ganância e luxo predominavam gerando muita imoralidade. Os extremamente ricos viviam ao lado da miséria de milhares. Viver à moda de Corinto significava viver no luxo e na orgia.

Naquele contexto viveu o apóstolo Paulo entre os anos 50 e 52, ensinando em sua primeira Carta aos Coríntios sobre o dom maior de uma comunidade fraterna: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente”.

Visava ele contribuir para a reconstrução de o que, no século passado, o psicólogo humanista Abraham Maslow intitulou de uma Rede Eupsiquiana ou uma Sociedade de Pessoas Boas.
Segundo o apóstolo Paulo somente conseguiremos este intento com o profundo respeito aos outros, praticando o fundamento primeiro da verdadeira liberdade cristã. No seu texto bíblico Paulo canta o ágape dos gregos: “o amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho”.

Para alguns mais jovens ou não leitores da Bíblia, as palavras do apóstolo Paulo são adaptadas em “Monte Castelo” na voz de Renato Russo cantada na sua criatividade lírica: “... sem amor eu nada seria./ É só o amor, é só o amor/ que conhece o que é verdade/ O amor é bom, não quer o mal/ Não sente inveja ou se envaidece...”.

Os hinos ao amor não são encontrados somente na filosofia cristã. Em um texto do século VIII escrito pelo filósofo budista Shantideva, uma vida dedicada ao bem é cantada nas palavras de serventia ao outro: “Que eu me torne um protetor para os desamparados, um guia para os que andam pelas estradas, e, para os que querem atravessar as águas, que eu seja um barco, um navio ou uma ponte. Que eu me torne uma ilha para os que buscam terra firme, uma tocha para os famintos de luz, um lugar de repouso para os que assim almejam e um servo para quem precisar ser servido.”

No ocidente, as palavras de São Francisco são lembradas: “Onde houver ódio que eu leve o amor...”.

De um outro Paulo, o sentido de uma vida de respeito e serviço ao outro, ouvi recentemente, na frase que ele escutou de um padre que coordena caridosos (feitos de coração) projetos sociais na cidade de São Paulo: “Só deixei de chorar quando comecei a enxugar as lágrimas dos outros”.

Em meus ouvidos ecoam neste momento a sabedoria de Clarice Lispector: “Meu caminho não sou eu; é o outro, são os outros”.

Seja no oriente ou no ocidente, a emoção do amor é universal. Na perspectiva do biólogo chileno Humberto Maturana, “a emoção fundamental que torna possível a história da hominização é o amor. Sei que o que digo pode chocar, mas insisto, é o amor. (...) O amor é constitutivo da vida humana...”.

Muito antes do desenvolvimento da ciência, o apóstolo Paulo já apontara os caminho da hominização: se não tivesse o amor, o ser humano não seria nada.

Portanto, insiste Maturana: “Sem a aceitação do outro na convivência, não há fenômeno social”.

É chegado o momento de COM-viver. Que possamos reaprender o amor no ano que se aproxima.
Para os que desejam encantar os seus primeiros dias de 2007 com palavras de amor, recomendo duas belíssimas obras.
A primeira, Aprender o amor: sobre um afeto que se aprende a viver (Papirus Editora, 2005) do querido amigo, psicólogo e antropólogo brasileiro Carlos Rodrigues Brandão, que nesta obra prima nos adverte, “não é preciso renúncia e sacrifício pessoal para ser amoroso e solidário. É preciso, sim, um desvio do humano para ser agressivo e competitivo”.
O segundo livro, Os ensinamentos sobre o amor: desenvolvendo a capacidade de amar com alegria e compaixão (Editora Sextante, 2005) foi escrito pelo monge budista Thich Nhat Hanh, nascido no Vietnã e ativista da paz, de onde anotei: “O primeiro aspecto do amor verdadeiro é ‘maitri’, a intenção e a capacidade de proporcionar alegria e felicidade. Para desenvolvê-lo, temos que adotar a prática de olhar e ouvir do fundo do coração para sabermos o que fazer e o que não fazer para que os outros sejam felizes”.
Nesses dois volumes, várias das idéias que apresento aqui poderão ser aprofundadas e, espero, praticadas, para a reconstrução de uma Sociedade de Pessoas Boas.

Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!
Um abraço de paz,
Francisco Silva Cavalcante Junior



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Este documento achei por acaso na internet, fazendo uma pesquisa sobre Maturana sua Teoria de Autopoiese, sobre cognição e a biologia do amor ou e a forma de linguagem e de como o do ser humano adquiri e apreende a conhecer e se comunicar. muito bom.

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